sábado, 16 de fevereiro de 2008

Memórias


Todos os muros guardam para si, histórias, segredos e confidências.

Este cantinho do Alto Alentejo, guarda de quatro irmãs e outras tantas amigas, o riso desmedido, as dúvidas de infância, os sonhos e os desejos de um dia serem gente crescida.

Um canto recatado e seguro, protegido pelo muro e pelo olhar atento da mãe ou da avó, que forneciam os ingredientes para o lanche, a ser preparado com esmero, ao abrigo de uma cabana improvisada.

Se este muro falasse, contaria de cada menina, o primeiro olhar terno que recebera do colega de carteira, a desobediência na escola, o motivo da reguada, o desvio rápido do caminho para casa, a história do rasgão na saia ou da ferida no joelho, do empréstimo dos patins à revelia dos pais, enfim...trivialidades de crianças sadias, rebeladas em surdina, sob os panos da cabana.
(As tentativas perigosas de atravessar a serra por buracos abertos no chão, que conduziam a caminhos labirínticos, semi-inundados, onde viviam algumas salamandras, essas tinham que ser contadas muito longe dos ouvidos daquele muro...).

As meninas cresceram, fizeram-se mulheres, tornaram-se mães. Os seus pequenos/grandes segredos, guarda-os o muro, cada vez mais escondidos em camadas de cal branca.

(foto de Myself)

3 comentários:

Carlos disse...

«Se este muro falasse, contaria de cada menina, o primeiro olhar terno que recebera do ...»
gostei imenso deste teu escrito.
Tens toda a razão, se ele falasse, quantas segredos , quantos desejos ,quantos sonhos...
que bom. gostei muito,

beijo

Oliver Pickwick disse...

Muito provavelmente segredos passados de boca em boca para não perderem a sua essência, como na tradição de antigas seitas de conhecimentos.
Beijos, prezada amiga!

Jo disse...

num cantinho secreto delas mesmas, as mulheres continuam meninas...

beijo*